A vida nos convida a racionalizarmos nossas horas, dias e até noites, a sermos máquinas programáveis que atendem os desejos frustrados da nossa estúpida sociedade. Nos é ensinado que o homem de bem é aquele que se faz presença por conta do dinheiro, que não há tempo para se perdê-lo, que o correto é atarefar-se e seguir essa regra como uma boiada tangida pelo seu domador. A vida só não nos ensina a nos conhecermos, a re-descobrir-mo-nos na exaustão da alegria do contato, do respeito, carinho, atenção. A vida só não nos ensina que o ponto máximo que um ser humano atinge é quando se enxerga no próximo.
A vida nos convida a sermos excelente na busca da resolução de situações adversas no trabalho, de encontrarmos força e motivação por mais trabalho, por posição influente, por conhecimentos técnicos, mas a vida não nos traça o conhecimento dela própria, do brilho, da liberdade de escolha, do clamor daqueles que sentem fome. Fome de comida, de abraços, de alegria, de se ter laços. A vida nos ensina que somos bons quando baixamos um pouco do vidro do carro e damos o resto do refrigerante ou do biscoito, mas ela não diz que o que nos leva a fazer isso não é a necessidade do outro, mas a reserva de nos sentimos, por um instante apenas, senhores do bem.
A vida ensina que valemos somente o que temos, que o externo é predominante, que as tentações existem para serem vivenciadas, que se eu tenho, eu posso, que não existe ninguém que possa nos parar.
O que de fato, a vida não nos ensina, é que merecemos vivê-la, de verdade, em cima de verdades, em busca do concreto, não é este mundo deturpado que nos ensinam.